Na última quinta-feira, assisti pela primeira vez o filme "Quase
Famosos", que conta a história de um adolescente que acompanha uma turnê
de uma banda de rock como correspondente da Revista Rolling Stone. Nas últimas
semanas, tenho feito um trabalho de resgate do material da banda Mandril, por
isso me identifiquei tanto c5om o rapaz do filme.
Mas esta história começa muito antes, para ser mais preciso,
no ano de 1989. Eu era uma criança com apenas 5 anos, mas já subia na janela do
apartamento para ver os adolescentes que tocavam rock no terraço de uma casa
vizinha. Era a Banda Não, que logo depois virou Piu-Piu e Sua Banda. Em
1993, o Piu-Piu e Sua Banda já estava entre os 3 principais grupos de
música independente do Rio de Janeiro. Já era rotina ver Rogério Piu Piu (voz),
Marcelo Pedra (baixo), Tavinho Menezes (guitarra), Alexandre Cegão (percussão) e Fabio Brasil (bateria) em jornais e
programas de TV.
Antes de completar 10 anos, comecei a me aproximar deles,
sempre interessado na música, que naquele momento já era uma paixão
incontrolável. Como os dois líderes da banda eram meus vizinhos, e a mamãe os
conhecia desde quando eram crianças, nunca foi problema o fato de serem 13 anos
mais velhos. Eu já era o "mascote" da banda em 1994, pois participava
de praticamente todas as reuniões. Em 1996, fui pela primeira vez em um
show do Piu-Piu e Sua Banda. O tão esperado disco só saiu em 1997, muito
depois de todas as outras bandas contemporâneas. Lembro com clareza da emoção
que senti ao ouvir uma música do disco no programa Cidade do Rock, da Rádio Cidade. Mesmo
com a boa repercussão do CD no cenário musical carioca, a banda já não era
prioridade para os integrantes, e chegou ao fim após um show na Fundição
Progresso, em 1998. No livro "Esporro", lançado em 2011 pelo
jornalista Leonardo Panço, o Piu-Piu e Sua Banda é o grupo com maior
destaque na publicação, que conta detalhes da "geração Garage" do rock
carioca.
Com o fim da banda, fiquei órfão da parte mais bacana do
início da minha adolescência, pois o contato com o pessoal da banda me fez
transitar em dois grupos de amigos na vila onde cresci: os amigos da minha
idade (que citei no post anterior) e o pessoal que tinha em média 10 anos a
mais do que eu.
Mas Rogério Piu-Piu e Marcelo Pedra se reuniram novamente em
2000. Deste reencontro surgiu o Mandril, uma banda com proposta totalmente
diferente do Piu-Piu & Sua Banda.
A primeira formação do Mandril era praticamente a mesma do
grupo anterior, com a adição de uma segunda guitarra por Nelson Burgoz Leroux e
de teclado por Renato Rocha.
Era a chance de voltar a me divertir nos shows, ensaios e
reuniões. Em 2001, o grupo lançou o primeiro CD demo, chamado Duodeno. Logo após
o lançamento, três integrantes saíram da banda. Fabio Brasil e Renato Rocha também
tocavam no Detonautas, que na época estava começando a fazer sucesso. Já o Nelson
estava iniciando um projeto solo, o Nelson e os Gonçalves. A bateria foi
assumida por PC Stocc (ex- Unabomber), a segunda guitarra por Marcelo Pulga e o
teclado foi abolido do som da banda.
Em 2002, o Mandril participou da primeira edição da
coletânea "Tributo ao Inédito", que reuniu os 10 principais artistas
independentes da cena musical carioca. Porém, uma semana antes do show de
lançamento da coletânea, o Rogério Piu-Piu deixou a banda. Ele queria dedicar-se
mais a sua filha e andava insatisfeito com a rotina de shows, ensaios e
gravações. O vocalista Dias Jr. foi aprovado no primeiro teste. Era o início da
principal formação do Mandril. Neste época, eu tinha 18 anos, e estava mais
conectado a banda do que em qualquer outro período. Eu era o sexto integrante:
empresário, assessor, roadie e fã número 1. Como eu já apresentava os shows do Mandril,
comecei a apresentar também os shows de divulgação do Tributo ao Inédito.
Com a saída do Rogério Piu-Piu, a minha amizade com o
Marcelo Pedra se fortaleceu. Hoje em dia, vejo nele o meu irmão mais velho. PC
Stocc e Dias Jr. também entraram em pouco tempo na lista das pessoas mais
queridas da minha vida.
Em 2004, a cena da música independente começou a perder
força no Rio de Janeiro, e o Mandril fez menos shows do que nos anos
anteriores. Em março de 2005, o Mandril fez a última apresentação. Após alguns
meses, o vocalista Dias Jr. mudou-se para Fortaleza, acabando assim com
qualquer esperança de retorno da banda.
Foram dezenas de shows, madrugadas de ensaios, reuniões,
viagens e muita, mas muita diversão.
O Mandril tinha um problema grave. A banda era tão ligada na
parte musical, que a internet nunca foi utilizada como meio de divulgação do
trabalho. A banda gravou dois CDs e participou das duas primeiras edições da
principal coletânea de música independente da década passada, mas mesmo assim
era impossível achar uma música da banda na internet. Após tantos anos de
ostracismo virtual, criei uma página no Facebook e uma conta no YouTube, onde
disponibilizei todas as canções da banda. Além das músicas dos dois discos, também
disponibilizei versões exclusivas e músicas inéditas. Link da conta no YouTube: http://www.youtube.com/channel/UC_jar90gocnC9ChRo2mYxTQ
O Reencontro:
O Reencontro:
O Dias Jr. é o fã nº 1 do Faith No More no Brasil, e os integrantes
do grupo se reuniram em 2009, após 11 anos separados. O Rio de Janeiro estava
no calendário da turnê de retorno. Fiquei sabendo que o Dias Jr. viria ao Rio
para assistir o show, então comentei com o Marcelo Pedra a ideia de fazer um
churrasco de reencontro dos integrantes do Mandril. O Marcelo gostou da ideia e
foi mais além: um reencontro entre os músicos que participaram das principais
formações do Piu-Piu & Sua Banda e do Mandril.
Como aconteceu em 02 de novembro de 2009, dia de finados, o
evento ganhou o título de "o rock não morreu". Mas naquele dia, o
sentimento de amizade que se mostrou imortal. O som começou a rolar às 10h e só
terminou às 19h. Quatro guitarristas, três bateristas, dois baixistas e vários
vocalistas. Foi sem dúvida o dia mais alegre da minha vida. Revisitamos com
canções os nossos últimos 20 anos.
Um fato curioso daquela data é que dias antes eu tinha
terminado um relacionamento, e estava marcado um encontro para uma possível
reconciliação na noite daquele dois de novembro. Quando a encontrei, ela me viu
mais feliz do que em qualquer outra ocasião. Eu estava totalmente sem voz, com
um sorrisão de orelha à orelha. Foi difícil explicar o motivo de tamanha
alegria logo após o término, mas a noite acabou bem.
No próximo domingo, dia 29, faremos um novo reencontro com
muita música e boas histórias.
Nem todos poderão comparecer, pois três integrantes da
última formação do Mandril estão morando fora do Rio: Marcelo Pedra vive em
Brasília, pois agora é consultor do Ministério da Saúde. PC Stocc é geógrafo do
Inea e mora em Bananal-SP e o Dias Jr. é um dos principais músicos da noite de
Fortaleza. Isso mesmo, os meus três maiores amigos desta história. Mas estamos
juntos sempre que é possível.
Por causa dessa experiência com a banda, durante boa tarde
da minha adolescência eu fiz questão de ser precoce e inovador.
Nos anos de 2001 e 2002, eu conciliei o Mandril com mais
duas atividades, que juntas ocupavam
todo o meu tempo. Eu era o coordenador de Crisma mais jovem da minha paróquia,
que tinha o segundo maior número de crismandos do Rio de Janeiro. Como também
já citei anteriormente neste blog, eu participava do grêmio do colégio. No
final de 2001, participei de uma chapa de protesto na eleição para a direção do
colégio. De acordo com um repórter que entrevistou os integrantes da chapa na
época, outro caso semelhante só tinha acontecido na Itália, em 1974. Criamos um
grande problema para a Secretaria Estadual de Educação e fui reprovado por
falta.
Gastei boa parte da minha jovialidade e disposição naquela
época. Quem me vê agora, após 10 anos, sem disposição, reclamando de dores no joelho, na coluna, mal humorado, pode até não acreditar que tive uma adolescência tão bacana e
agitada.
Me imagino daqui a alguns anos, contando para um descendente
como foi possível ter uma juventude fantástica sem vícios ou grandes problemas,
apenas escolhendo as amizades certas.
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