segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Po..., Scott!

Porra, Scott! Essa foi a primeira frase que exclamei ao ler o título da reportagem sobre a morte do cantor Scott Weiland.
O Soundgarden é a minha banda preferida, a segunda é o Stone Temple Pilots. O STP também ocupa o mesmo lugar na vida do meu melhor amigo. No entanto, a favorita do Thiago é o Pearl Jam. Como não havia discussão sobre a segunda colocada, o Stone Temple Pilots era a banda que a gente mais ouvia na adolescência e início da fase adulta. Era a nossa referência musical quando tentamos montar uma banda. Cheguei a sonhar que a banda fazia um show na Taquara, Zona Oeste do Rio, e eu e Thiago assistíamos a apresentação de cima do palco, atrás da bateria.


Na minha opinião de noventista apegado, o STP foi a banda mais completa da geração grunge. A banda surgiu na Califórnia, um pouco distante da fria Seattle, que era o berço do grunge no início da década de 1990. Mas isso não foi um problema para o quarteto californiano, que embarcou com sucesso na onda liderada pelo Nirvana. Entre 1992 e 2001, a banda lançou 5 discos, experimentando diversas vertentes do rock em suas canções. Os álbuns nº 4, de 1999, e Shangri-la Dee Da, de 2001, são impressionantes. A banda mostra uma versatilidade tão grande nesses dois discos, que parecem coletâneas com diversos grupos. No palco, eles eram imbatíveis. Scott Weiland, Eric Kretz e os irmãos Dean e Robert DeLeo eram precisos no palco, reproduzindo com perfeição as gravações de estúdio. Mas a performance do Scott no palco era o que a mais chamava atenção.
A partir da turnê do segundo disco, Purple, de 1994, o problema de Scott com as drogas (álcool, maconha, cocaína, crack, heroína...) começou a atrapalhar a banda. Internações e prisões fizeram parte da vida dele nos últimos 20 anos.
Em 2003, a banda anunciou o fim das atividades e lançou a coletânea Thank You, que na verdade era um CD/DVD duplo. Além do CD com os maiores sucessos, o comprador levava para casa um DVD com todos os clipes, performances ao vivo e gravações feitas por fãs. A banda ainda não havia tocado por aqui e não existia nenhum registro oficial em vídeo até então. Muitos fãs brasileiros, eu inclusive, só se deram conta que eles eram monstros ao vivo, assistindo o DVD após o fim da banda. Foi uma maneira generosa de dizer "muito obrigado" aos fãs. Nesta época, até batizei de 'Scott' um cão labrador que ganhei de aniversário.
No carnaval de 2004, viajei para Nova Friburgo com alguns músicos da cena independente do Rio. Entre eles, estavam o meu grande amigo Marcelo Pedra (Piu Piu e Sua Banda / Mandril), Leonardo Panço (Soutien Xiita / Jason / Tamborete), Rodrigo Djames (Ant-Discos) / Heron (Uzômi) e Fabio Brasil (Piu Piu e Sua Banda / Jason / Detonautas).
O Fabio Brasil foi meu vizinho durante muito tempo e tocou no Piu Piu e Sua Banda, grupo que foi formado na vila onde cresci. Na época da viagem, o Detonautas estava no auge, terminando as gravações do segundo disco. Fui de carona com o Fabio e como não poderia ser diferente, o assunto foi só música. Na semana anterior ao carnaval, ele havia comprado a coletânea Thank You. O Fabio comentou que ficou impressionado com a performance da banda ao vivo. Quando chegamos a casa onde ficamos hospedados, ele falou novamente sobre o DVD com o resto do pessoal. O impacto que a coletânea Thank You causou no Fabio está presente no terceiro disco do Detonautas, Psicodeliamorsexo&distorção, lançado em 2006.
O DVD também fez muito sucesso na famosa Casa do Xhá, em Guadalupe. A residência do vocalista do ParedeVinil foi o QG do rock independente carioca nos anos de 2004 e 2005. O Stone Temple Pilots virou a segunda banda preferida de muita gente.
Com o fim da banda em 2003, sem shows no Brasil até então, já estava conformado que nunca assistira o STP ao vivo. Porém, eles se reuniram em 2008, e lançaram um disco com músicas inéditas em 2010. Só a notícia do retorno do Soundgarden me deixou mais feliz.
O disco inédito foi o que mais ouvi no ano seguinte. Quando estava chateado, bastava ouvir o CD que o sorriso aparecia fácil. Gosto de todas as músicas e a arte a capa do CD foi papel de parede do meu computador e celular durante muito tempo. O disco me passa uma vibração tão boa, que pensei em tatuar o símbolo da capa no braço. A música Cinnamon tem o poder de melhorar o meu humor até hoje.


Pela primeira vez o Brasil estava nos planos da banda. No dia 11 de dezembro de 2010, eu, Thiago e Ventura (outro grande amigo e guitarrista da tentativa de montar uma banda), ficamos extasiados com uma apresentação impecável no Circo Voador. O show entrou pra seleta lista dos melhores de nossas vidas.
Em novembro de 2011, tive a oportunidade de assistir a banda novamente no saudoso festival SWU. Desta vez, acompanhado por outros grandes amigos: Raphael, Sanmer, Gabriel (baixista na tentativa de montar uma banda de banda) e Vitor Rocha. O show não foi tão bom quanto o do Circo . Scott parecia cansado, sem voz, o que prejudicou os outros integrantes. Eles estavam sem ritmo para um show de apenas 60 minutos. Mas eu não imaginava que esse seria o nosso último encontro.


Em 2013, o Scott foi expulso da banda devido aos problemas com as drogas que sempre atrapalharam a banda. Continuei acompanhando o que ele fazia pelas postagens no facebook. Na semana passada, ele compartilhou uma publicação que me deixou muito animado. Scott disse em uma entrevista que estava cogitando um possível retorno ao STP.
A primeira notícia que li na última sexta-feira, encheu os meus olhos de lágrimas e sepultou de vez a chance de assisti-los juntos novamente. Perdi um cara que me acompanhou durante toda a juventude. Não era um bom exemplo, muito menos um herói. Mas como músico, ele conseguiu acrescentar muito na minha vida com a sua arte.
Scott Weiland era um rock star com todas as qualidade e defeitos que o papel exige. Era uma tragédia anunciada, mas um fã nunca está pronto para recebê-la. De acordo com amigos do músico, ele havia voltado recentemente a abusar de álcool e crack. Por ironia do destino, na sexta-feira, levei ao ar pela Rádio Globo a última reportagem da série “Crack - 30 anos destruindo vidas”.
Desejo que o Scott encontre realmente a paz agora.
Na sexta-feira, Cinnamon me fez chorar.


2 comentários:

  1. Bacana este registro com feeling de fã. Um acontecimento tristemente quase comum no mundo do rock. Que ele seja acolhido em sua dor e stop the vacilation.

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  2. Bacana este registro com feeling de fã. Um acontecimento tristemente quase comum no mundo do rock. Que ele seja acolhido em sua dor e stop the vacilation.

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