"Caralho, é o meu
chapéu!"
Me desculpem pelo palavrão, mas não
consegui pensar em outra frase para começar este texto.
Esta foi a mais pura
expressão do que senti no dia 12 de dezembro de 2007. Segue o vídeo:
Eu era um pré-adolescente em
meados da década de 1990, mas já sabia qual gênero musical me acompanharia para
o resto da vida. E o Chris Cornell, através do Soundgarden, foi a personificação
da minha paixão pela música. Da mesma forma e na mesma época, surgiram as
outras duas paixões que carrego intensamente até hoje: automobilismo,
personificada na figura do piloto canadense Jacques Villeneuve e o rádio,
representada pelo 102,9 FM da extinta Rádio Cidade e do então jovem locutor
Rhoodes Lima, que atualmente é o maior narrador de MMA do país, e sempre foi a
minha principal referência profissional. Essas foram as minhas paixões de
adolescente. Que me perdoem as namoradinhas da época (admito que não foram
muitas). Na verdade, minha vida amorosa só ficou mais agitada quando a Rádio
Cidade chegou ao fim pela primeira vez, o que acabou coincidindo com o ano da
aposentadoria do Jacques Villeneuve. Foi aí que começou a sobrar tempo aos fins
de semana para outras coisas, como namorar. Já na fase adulta, eu sempre falava para as minhas namoradas: "Você é prioridade até o assunto chegar ao Chris
Cornell ou ao Jacques Villeneuve". Tanto que nesta manhã, uma das
primeiras mensagens que recebi sobre a morte do Chris Cornell, foi da minha
ex-esposa.
Pouco tempo após eu descobrir a banda,
que para mim é a melhor da história, o Soundgarden anunciou o fim das
atividades, no dia 09 de abril de 1997 (que também é o dia do aniversário do Jacques Villeneuve). Achei que era o sepultamento do sonho
de assistir ao incrível quarteto de Seattle ao vivo, pois o grupo ainda não
havia tocado no Brasil.
Mas não demorou até o Cornell
lançar um bem sucedido disco solo. Mas a grande surpresa veio mesmo em 2002,
quando ele montou o Audioslave com ex-integrantes do Rage Against The Machine.
Continuei acompanhando, comprando discos, mas sem o mesmo entusiasmo que tinha na época do Soundgarden. Em apenas cinco anos, a banda lançou 3 discos. Após o fim
do Audioslave, em 2007, Chris Cornell saiu em turnê cantando músicas da
carreira solo, do Soundgarden, do Temple Of The Dog e do Audioslave. E foi
nesta turnê que Cornell desembarcou pela primeira vez em terras tupiniquins. Acompanhado
pelos excelentes músicos Peter Thorn (Guitarra), Yogi Lonich (Guitarra), Corey
Mc Cormick (Baixo) e Jason Sutter (Bateria), Cornell passou a limpo os seus
25 anos de carreira, no palco do Citibank Hall. Eu não poderia estar em outro
lugar que não fosse a primeira fila. A minha principal identidade visual na
adolescência, era a utilização de chapéus australianos. Eu tinha uma coleção, de
várias cores. Como no início dos anos 2000, eu participei do cenário da música
independente carioca na produção de shows do "Mandril" e na
apresentação de boa parte dos shows das 3 primeiras edições da coletânea
"Tributo ao Inédito", os conhecidos me encontravam nos shows por causa do chapéu. Então, no dia 12 de dezembro de 2007, resolvi tirar do fundo da gaveta
o chapéu vermelho, que já estava aposentado há alguns anos. Percebendo o meu
estado de êxtase (ou total descontrole), o Cornell algumas vezes veio em minha
direção cantando, me encarando a poucos centímetros de distância. Até que no
meio do show, resolvi jogar o meu chapéu no palco (nunca entenderei o motivo). Ele
pegou o chapéu, pendurou no pedestal e começou a cantar a música "Be
Yourself". Após o fim da canção, ele me devolveu o chapéu. Para completa
compreensão do que foi este momento, que inspirou o título desta publicação, é
necessário que você assista o vídeo do início do texto.
Porém, minha história com Chris
Cornell não parou por aí. No final de 2009, ele anunciou a volta do Soundgarden
e em 2012, a banda lançou um disco com músicas inéditas, o que não acontecia
desde 1996. Em 2013, nos encontramos novamente. Desta vez, num formato mais
intimista, em um show acústico no Vivo Rio. E finalmente em 2014, realizei um
dos maiores sonhos da minha vida, que era assistir a um show do Soundgarden.
Essas experiências foram detalhadamente contadas em outras publicações aqui do
blog. Para quem quiser saber, seguem os links:
Peço licença para repetir
apenas um trecho do texto que publiquei em 2013, pois é uma das histórias mais
lindas que já tomei conhecimento:
"A minha admiração pelo
Chris Cornell não é apenas por considerá-lo o melhor cantor da história do
rock, vocalista da minha banda preferida ou por ser o músico mais influente do
movimento grunge (essa afirmação está explícita no documentário Peal Jam Twenty).
Em 2009, o Chris teve a atitude mais comovente que já vi por parte de um
artista. Segue a notícia publicada no
site Cifra Club, no dia 21 de abril de 2009:
"Chris Cornell
disponibilizou para download a música , feita em parceria com Rory de La Rosa,
um fã do cantor.
De la Rosa perdeu a filha
Ainslee, que tinha seis anos, vítima de câncer no ano passado. Pouco depois,
ele foi diagnosticado com a mesma doença.
O fã quis entrar em contato com o
cantor para dizer como a música de Cornell havia sido importante em sua vida e
na ligação que ele tinha com sua filha.
O cantor se comoveu com a
história e respondeu a mensagem. A correspondência dos dois resultou em um
poema escrito por Rory de la Rosa que acabou transformado em uma canção.
I Promise it’s Not Goodbye pode
ser baixada no site oficial do cantor gratuitamente. Na página há também um
link para quem quiser fazer doações a Rory de la Rosa e sua família em memória
de Ainslee e para ajudar com as contas do tratamento médico. "
As fotos do vídeo são da pequena
Ainslee.
Já assisti este vídeo algumas
vezes e nunca consegui chegar ao final sem estar com os olhos marejados."
Diferente do que acontecia
anteriormente, na manhã deste 18 de maio de 2017, chorei mais uma vez ouvindo a
canção, mas o motivo foi outro.
Depois de uma longa e turbulenta noite de
trabalho, acordei cedo para saber se o Michel Temer já havia renunciado. Mas em
meu celular, já estava a mensagem de um grande amigo informando que uma
parte importante da minha história havia morrido. Foi apenas a primeira de
muitas mensagens. Todas as pessoas disseram que foi impossível não lembrar de mim quando
souberam da notícia.
E o chapéu? Eu sempre fazia a
estúpida brincadeira dizendo que quando o Cornell morresse, ele ia valer um bom
dinheiro. Não poderia imaginar que esse dia chegaria tão precocemente. E é claro
que não há dinheiro no mundo que pague a lembrança de um dos momentos mais
incríveis da minha vida.
Me esforcei para este texto não
soar fúnebre, mesmo estando com o coração devastado, pois o Cornell me ofereceu
a sua arte, que sempre foi sinônimo de felicidade, euforia e boas lembranças.
Obrigado por ter feito minha vida
mais feliz!
Descanse em paz, cara!
I promise it's not goodbye!
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