domingo, 25 de novembro de 2018

É sempre amor, mesmo que acabe...

Você acredita em ex-amor? Eu não! Na verdade, até um desamor é amor, só que malsucedido. Parto pelo pressuposto que ninguém passa ileso por um amor. É sempre uma troca, deixamos um pouco de nós na outra pessoa na mesma medida que também recebemos dela. No meu caso, carrego comigo coisas bem específicas. Todas as pessoas relevantes que passaram pela minha vida deixaram pelo menos um aprendizado, um momento de gargalhada espontânea e brilho nos olhos, uma fala, uma canção, um filme, um perfume e um lugar. Essa é a parte do amor que fica intacta para posteridade. 

Pausa para a primeira canção do texto:


Essas coisas não vão te deixar, por mais que você queira, faça terapia, cultive ódio e tantas alternativas que não terão sucesso. Aprendi isso na adolescência, mas demorei a colocar em prática na minha vida. Na época, durante uma confissão, o saudoso padre Avelino Contini me disse: “Renato, enquanto não perdoar essa pessoa, você vai dormir, acordar, almoçar, estudar e ela estará sempre com você, pois não sairá do seu pensamento.” A ocasião em questão nem se tratava de um relacionamento amoroso, mas uma briga com o meu melhor amigo. O mesmo que anos depois, após o fim do meu primeiro namoro, me incentivou a fazer a “fogueira das vaidades”, que era simplesmente queimar todas as fotos (ainda não tinha câmera digital), cartões e presentes dados pela minha ex. Que besteira! Depois de mais de 15 anos, eu e minha primeira namorada somos amigos e, infelizmente, não temos mais nenhuma lembrança da época, mesmo que fosse para apenas darmos boas gargalhadas.
Desde então, namorei algumas vezes. É claro que, logo após o término, fica impossível manter qualquer tipo de contato. No entanto, depois de algum tempo, essa linha tênue fica menos arriscada para ambos. Um dos meus defeitos é o arrependimento tardio, pois costumo me deixar levar pela emoção, não pensando muito antes de falar e tomar decisões. Porém, em algum momento da vida, a voz da consciência fala alto e faço uma reflexão sobre determinada pessoa ou situação. Quando isso acontece, não me furto da responsabilidade de procurar a pessoa para pedir desculpa ou esclarecer fatos obscuros, mesmo que seja através de um e-mail quilométrico (minha especialidade). Nunca espero resposta, pois na verdade, acredito que estou fazendo um acerto de contas comigo mesmo.
Em outubro de 2014, a Ruth Manus, colunista do Estadão, publicou o texto “Oi ex, como vai?”.

Pausa para ler o texto da Ruth: Oi ex, como vai? Ruth Manus

Leu? Muito bom, né!?
Até hoje esse texto me inspira. Desde então, escolhi ficar com a lembrança boa. Não dá pra sentir raiva toda vez que ouço uma música, sinto um perfume, passo por um bar, falo de uma viagem, acesso uma pasta de fotos no computador, uso uma expressão ou até mesmo quando o Uber me sugere um endereço de destino. Prefiro sorrir de canto de boca.

Pausa para ouvir a música de onde tirei o título deste texto:


Hoje em dia, faço bolinhas com as meias antes de guardá-las na gaveta, como beterraba e cenoura com frequência, preparo Nescau sem açúcar, virei fã de Snow Patrol, superei o trauma de vinho por causa de um porre na adolescência e tantas outras coisas que foram deixadas em mim e fazem parte do meu dia a dia.
A mágoa drena a vida aos poucos, pois como cantam Fernanda Abreu e Herbert Vianna na canção 'Um Amor, Um Lugar': "E se não for, valeu! E se já for, adeus!"


domingo, 21 de outubro de 2018

O final fica por sua conta...

Neste domingo, fui ao terceiro enterro no prazo de 10 dias, pois três grandes amigos perderam entes muito próximos. O primeiro perdeu o tio/padrinho num acidente de carro, após perder o controle do veículo e bater numa árvore. O segundo perdeu a avó, a pessoa mais importante da vida dele. Ela disse que não estava sentindo-se bem, deitou no colo de uma das filhas e deu o suspiro derradeiro. O terceiro e último, meu amigo desde o berço, passou horas procurando o pai, que havia saído antes do almoço para fazer compras. Ele só o encontrou às 21h30, no IML. Passou mal voltando pra casa e o coração não resistiu.
Três pessoas que não tiveram a chance de se despedir, de dar um beijo, de abraçar forte... Três pessoas que acordaram pensando que seria só mais um dia, não o último.
Essa é a vida, bela, intensa e compartilhável, porém, fugaz.
Os três partiram sem levar nada palpável daqui, mas deixaram riquezas incalculáveis dentro dos meus amigos e dos demais entes queridos.
Este até poderia ser mais um texto enorme que escrevo, mas acho que neste caso, a minha opinião/reflexão não tem valor algum pra outra pessoa. É só uma questão de interpretar a vida. Deixo essa publicação inacabada para que você, que dedica alguns minutos aos meus devaneios, conclua da forma que quiser. Se refletir, aja, beije, abrace e ame! Caso contrário, tenha um bom dia amanhã, pois será apenas mais um.

P.S.: Enquanto escrevia, essa música do síndico veio-me à cabeça:

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Decidi ter um quase cinquentão


O meu Fusca 1971 completou 1 ano! Como assim? Vou explicar, mas preciso voltar quase três décadas. No início da década de 1990, um vizinho comprou um lindo Maverick azul. Fiquei encantado com o design agressivo e com o ronco assustador do modelo. Era um autêntico carro de vilão de filme americano. Porém, na década de 1990, um carro fabricado na década de 1970 era considerado velho, não antigo. Mas de todos os carros da vila onde cresci, era o Maverick que fazia os meus olhos brilharem.
Pausa para uma queixa: quase 30 anos depois, até hoje não andei em um Maverick. Nem o vizinho e nem o seu filho, que é um grande amigo, me deram essa alegria.
Continuando... Saí da infância, passei pela adolescência e cheguei à fase adulta ainda apaixonado pelo Maverick azul. Em 2003, o meu vizinho ganhou de um de seus filhos outro Maverick, completamente original, o que não era o caso do outro. Então, ele resolveu vender o tão cobiçado Maverick azul. Na época, a cultura do antigomobilismo com carros da década de 1970 ainda engatinhava, o que fez com o valor pedido fosse muito baixo. Coincidentemente, naquela ocasião, aos 19 anos de idade, eu compraria o meu primeiro carro.  A ideia inicial era comprar um carro 0km básico ou um semi-novo com alguns acessórios. Mas quando fiquei sabendo que o Maverick estava à venda, mudei completamente os planos: compraria um carro de 5 anos de uso para o dia a dia e sobraria a grana para comprar o Maverick. Mesmo sendo com o meu dinheiro, consultei minha família. É claro que todo mundo achou loucura. Um dos argumentos era que eu só tinha uma vaga na garagem de casa. Eles venceram, comprei um carro novo e desisti do Maverick. Logo depois, o carro dos meus sonhos foi vendido. Nesses últimos 15 anos, o Maverick passou a ser um dos carros da década de 1970 mais cobiçados pelos antigomobilistas. Se eu o tivesse comprado em 2003, hoje, ele valeria pelo menos 10 vezes mais do que teria pagado na época. Esse é um dos maiores arrependimentos da minha vida.
Depois disso, quando pensava em ter um carro antigo, só cogitava um Maverick. Nos anos seguintes, tive alguns carros novos ou semi-novos. Porém, em 2014, o meu melhor amigo comprou um Fusca, modelo que é pra ele o que o Maverick é pra mim. Comecei a ir com eles a encontros de carros antigos, o que resgatou duas lembranças da minha infância: as histórias do Fusca laranjinha, o primeiro carro do meu pai, e o manual do proprietário do Fusca verde folha 1970 do meu padrinho, que foi uma das primeiras leituras da minha vida.  Por causa de um problema de visão, meu pai teve que parar de dirigir antes da minha vinda ao mundo. Meu padrinho também já não tinha mais o seu besouro, mas nunca soube o motivo para ter guardado o manual. Como na época, já não era mais possível comprar um bom Maverick por menos de R$ 40 mil (atualmente um exemplar do modelo com alto índice de originalidade e conservação já está perto dos R$ 200 mil), resolvi comprar num Fusca como meu hobby. Continuaria tendo um carro moderno, mas teria um antigo para acompanhar o meu melhor amigo nas exposições.
Após algumas semanas de procura em sites de venda, achei um 1971 vermelho cereja, único dono, com manual do proprietário, nota fiscal de fábrica e alto índice de originalidade. Era um verdadeiro tesouro. Comprei sem pensar duas vezes. O carro era um achado, no entanto, precisava de uma restauração total, pois só havia sido pintado uma vez em 43 anos e todo o interior era original de fábrica (bancos, forros e tecidos). 

No dia seguinte à compra, já o levei para a oficina do Chicão, meu lanterneiro de confiança. A previsão era que ficaria pronto em dois meses. Porém, Chicão teve grandes problemas de saúde relacionados à diabetes e ele não deixava nenhum funcionário mexer no meu carro. Era um serviço dele. Após 2 anos de muitas desculpas e prazos não cumpridos, Chicão morreu. O carro estava completamente desmontado em um canto da oficina. Cheguei a pensar em desistir do projeto e perder os quase R$ 7 mil reais investidos até então, que representavam a compra do carro e o sinal dos serviços de lanternagem e pintura. Mas não tive coragem, pois o histórico do carro era raríssimo. Não encontraria outro igual tão fácil. Em julho de 2016, tirei o carro da oficina do saudoso Chicão e levei para uma a 100 metros da minha casa. 

Na nova oficina, os trabalhos de lanternagem e pintura duraram 5 meses. Novamente, a vaga na garagem voltou a ser um empecilho. Precisava ter o Fusca por perto para providenciar o resto dos serviços que faltavam (capotaria, montagem, elétrica, mecânica...). 

Então tomei uma decisão radical: vendi o meu carro moderno, que chegava a ficar até um mês sem uso, pois sou bem atendido pelo transporte publico no trajeto casa x trabalho. Abri mão de ar condicionado, direção hidráulica, vidro elétrico, trava elétrica, air bag, piloto automático e outros itens de conforto.
A meta era deixar o Fusca exatamente como tivesse acabado de sair da linha de produção. Foi uma verdadeira torneira aberta de tempo e dinheiro. Sempre faltava algum detalhe. Comprei peças pelo Mercado Livre de quase todos os estados da federação. Além disso, cheguei a parar dentro de uma das favelas mais perigosas do Rio atrás de um botão do painel. Com a ajuda de vídeos do YouTube, restaurei em casa algumas peças de acabamento. Quando eu não estava trabalhando, estava na garagem mexendo no Fusca. Não sei como os meus dedos não caíram com a quantidade de produtos químicos que eu utilizava para tentar tirar as manchas de tinta e graxa das unhas.
Em outubro de 2017, finalmente, ele estava do jeito que eu queria. O investimento foi de pelo menos 30% a mais do seu valor de mercado após a restauração. Deixou de ser um hobby e virou um casamento, para nunca pensar em separação. 

Nesses últimos doze meses, juntos, escrevemos 6.500 quilômetros de histórias, viajamos para outro estado e fizemos ótimas amizades. Todo o prazer em dirigir que eu havia perdido, recuperei com intensidade. Aprendi o que era a tal “Fuscaterapia” que o meu melhor amigo falava. Quando o dia não está legal, basta sair pra dar uma volta pela cidade que volto revigorado pra casa. Aos finais de semana, quando a noite está bonita, costumo sair para comer um cachorro-quente na Praia de São Francisco, em Niterói, a 43 quilômetros da minha casa. Na Ponte Rio-Niterói, me sinto num túnel do tempo que me leva direto para a década de 1970.
Outro ponto positivo foi que me reciclei como motorista, pois a condução é totalmente diferente. Pra início de conversa, ele não tem retrovisor do lado direito. Ironicamente, esses doze meses também representam o maior período sem me envolver em um acidente de trânsito, desde o meu primeiro carro. Quem me conhece, sabe que o meu histórico de acidentes é extenso. Se juntar todos os Brats que tenho, a quantidade de folhas não ficará muito atrás da Bíblia Sagrada. Algumas pessoas até achavam que era um luxo trocar de carro a cada dois anos. Mas na verdade, elas não compreendiam que esse era o prazo máximo que um veículo durava na minha mão.
É impressionante como o Fusca mexe com a memória afetiva das pessoas, de todas as idades e classes sociais. Quase sempre que saio com ele, alguém para ao lado para elogiar, perguntar o ano de fabricação ou brincar perguntando por quanto eu venderia. 

Só no último mês, dois casos muito bacanas aconteceram. Estacionei rapidamente na porta de uma escola primária. Quando estava trancando a porta, se aproximou uma menina, de cerca de 8 anos, acompanhada pela mãe. Ela já chegou dizendo: “Mãe, é igual o que tenho em casa!”. Comecei a rir e a mãe me explicou que a menina é apaixonada por Fuscas e tem uma miniatura no quarto. Perguntei se ela já tinha entrado em um, a mãe respondeu que não. Então abri a porta e a mãe fez verdadeiro um book dela dentro do carro. Na que hora estava saindo, ela abraçou o volante como fosse um grande urso de pelúcia. Ganhei o dia!
Após alguns dias, estacionei o carro numa área quase deserta do shopping (antigomobilista tem pavor de parar perto de outros carros por causa das portas assassinas). Quando estava indo embora, o shopping já estava mais cheio, e ao lado do Fusca tinha um Renault Logan parado. Depois percebi que além do carro, tinha um senhor em pé, com tom de contemplação. Quando abri a porta, ele olhou pra mim e disse: “Tempo bom! Que saudade eu tenho desse carrinho!”. Batemos um papo por alguns minutos (algumas crianças até me comovem, mas idosos são o meu ponto fraco). Só não conversamos mais porque a esposa dele estava dentro do Logan esperando o fim dos saudosismos para ir embora. O Fusca é uma verdadeira máquina de arrancar sorrisos! Todo mundo tem uma história pra contar envolvendo este modelo da VW.
O meu Fusca foi utilizado nas gravações da nova versão do filme "O Beijo no Asfalto", do Murilo Benício. A estreia dele nas telefonas foi ao lado de Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos e Stenio Garcia. Nada mau para um senhor que quase foi aposentado compulsoriamente. 
Mas o que me deixou feliz de verdade, foi ele ter sido usado nas fotos do casamento dos meus afilhados Alyne e Yuri.

Mas não foram só vitórias. Como ele ficou praticamente 3 anos parado, alguns problemas mecânicos foram surgindo conforme foi voltando a rodar. O pior de todos foi quando a roda traseira esquerda se soltou dentro do túnel Noel Rosa. Isso mesmo, no Noel Rosa, o túnel mais assustador do Rio de Janeiro. Outro problema que me deu muita dor de cabeça foi o entupimento da linha de combustível. Quando eu pisava fundo no acelerador, o carburador tentava puxar mais combustível, só que não chegava a quantidade suficiente, aí o carro começava a engasgar até morrer. Mas meu carma com túneis ainda não havia acabado. Por causa desse problema, enguicei no túnel da Covanca, na Linha Amarela e no Túnel Marcello Alencar. Troquei várias peças até descobrir que bastava limpar o canal por onde passava a gasolina. A última vez que ele me deixou na mão, foi em junho, quando estava indo passar um fim de semana em Visconde de Mauá. Tinha acabado de conseguir um posto para abastecer, pois foi no dia que acabou a greve dos caminhoneiros. Saí do posto e parei num sinal, acionei a embreagem e o pedal foi até o final, sem engatar a marcha. O disco de embreagem tinha ido pro espaço. No fim das contas, um amigo antigomobilista me ofereceu um de seus carros, o que salvou o meu fim de semana.
Depois da conclusão da restauração, ficou faltando apenas uma coisa: um nome! Como ele foi fabricado em 1971, ano do nascimento do meu maior ídolo no automobilismo, o meu Fusca passou a ser chamado de Jacques Villeneuve, ou apenas Villeneuve para os mais íntimos.

O grande problema é que após o primeiro carro antigo, é difícil saber a hora de parar. Daqui a alguns dias, fica pronto o Nelson Piquet, um Chevette 1987, com o raro interior marrom tabaco e apenas 80 mil quilômetros rodados, comprado por mim há dois meses. Como ele ainda estava com a pintura original, levei para dar um banho de tinta.
A grande pergunta que me faço novamente é: onde vou guardá-lo? Se tiver uma vaga sobrando aí na sua casa, me avisa!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A solução é a despedida

Sou fruto de miscigenação curiosa. Nasci no Rio de Janeiro, mas meu saudoso pai era filho de uma capixaba com um italiano. Já a minha mãe é paraibana. Por causa dessa improvável árvore genealógica, cresci sem ter contato com avós, tios, primos e demais familiares. Mas desde pequeno tive a compensação, e que compensação! Tenho os melhores amigos do mundo e suas famílias acabam sendo minhas também! Mas há cerca de 10 anos, se iniciou um fenômeno que parece não ter fim: a maior parte dos meus amigos de longa data desistiu do Rio de Janeiro.
Começou no início de 2009, quando um grande amigo, que fiz na época de coordenação de Crisma, aceitou uma boa proposta de emprego e foi morar em Guarulhos. Nossa amizade foi muito além da igreja. Durante o auge da nossa adolescência, ele foi meu principal companheiro de aventuras. Foi com ele que fundei a ‘Turbinol’, a banda que só fez um show. Em 2011, fui a São Paulo presenciar o casamento dele. Atualmente, tem dois filhos com a esposa.
Em 2010, foi a vez de um casal muito próximo abandonar a casa que tinha acabado de reformar no Rio para viver a paz da cidade de Bananal, em São Paulo. Atualmente, ele que é geógrafo, vive tranquilamente com a esposa e o filho, e ainda tem tempo para se engajar em causas ambientais da região.
Dois anos depois, foram duas pancadas! Na semana do meu aniversário, o amigo que é o meu irmão mais velho, conselheiro e refúgio nos momentos mais difíceis. Ele deixou uma ascendente carreira no Rio de Janeiro, após aceitar um convite para trabalhar no Distrito Federal. Hoje em dia, é uma referência em uma determinada área da saúde mental. Ainda em 2012, outro casal de amigos decidiu que aqui não era mais um bom lugar. Os dois abandonaram empregos em grandes empresas para viver em Londres. Há poucas semanas, nasceu a primeira filha deles, uma linda princesa londrina!
Em 2014, outro grande amigo muito importante na minha história de vida, e que durante a década de 1990 era o meu ídolo, pois foi um dos artistas mais influentes do cenário underground carioca. Deixou a cidade que um dia viu sua foto estampada nos cadernos de cultura dos jornais para montar uma pousada na pacata cidade de Cunha, em São Paulo. Além de cuidar da bela pousada com temática musical, seu hobby é fazer apresentações em outros estabelecimentos, tocando e cantando canções de artistas que o influenciaram.
Em 2015, a mulher que foi a minha primeira grande amiga. Depois de passar por um sombrio período de depressão, ela desconfiou que a sua cura poderia estar no aeroporto. Deixou toda a tristeza pra trás e foi ser feliz na Colômbia. Nos falamos há alguns dias. Ela está mais feliz do que nunca, prosperando profissionalmente e já preparando o segundo passo da sua busca pela felicidade: Europa.
No ano de 2016, foi a vez da minha então namorada. Ela é natural de Jacareí, uma cidade do interior de São Paulo. Após 7 anos morando no Rio de Janeiro, não aguentou mais. Após ter sintomas de síndrome do pânico, descobriu durante alguns dias em sua terra natal que a cidade maravilhosa estava afetando a sua saúde.
No ano passado, mais um casal, do qual sou padrinho de casamento. Ele, um dos engenheiros de telecomunicações mais requisitados na implementação da telefonia móvel no país, não conseguia mais usufruir dos bens que conquistou com muito suor. Apaixonado por motos esportivas, após ser rendido por bandidos na porta de casa, não tinha mais tranquilidade para curtir o seu hobby. Vendeu tudo e foi morar com a esposa no Texas.
Mas 2018 já começou com uma grande surpresa. Desta vez, é o meu melhor amigo, que há mais de 20 anos é o meu irmão de alma. O cara com quem no início da adolescência dividi composições e as paixões por música e automobilismo. Ele é a pessoa com quem mais briguei na vida, por isso acredito que também seja a que mais me conhece. Quando voltamos a nos falar, depois de um período de 3 anos brigados, nós dois estávamos em processo de irmos morar com nossas companheiras, mas não sabíamos que as duas tinham o mesmo nome. Só que a dele, com quem está casado e me deu um sobrinho, nasceu exatamente no mesmo dia que eu: 10/03/1984.
No grupo de whatsapp dos amigos de infância, ele sempre fala: “eu já sabia que o Renato daria essa resposta”. Quando achamos que o outro não está bem, não mandamos mensagem perguntando se está tudo certo. Telefonamos logo um pro outro, pois o “alô” já responde a nossa dúvida.
Porém, a história se repete: ele vai trocar um ótimo emprego numa multinacional para proporcionar mais qualidade de vida à família, na cidade de São Carlos, em São Paulo. Hoje, coube a mim o papel de marcar a despedida com os amigos de infância. Logo depois, coincidentemente, a rádio que eu estava ouvindo tocou a música ‘Big Empty’, do Stone Temple Pilots, nossa segunda banda favorita, pois a primeira dele é o Pearl Jam e a minha é o Soundgarden. Na hora, mandei pra ele o print do aplicativo da rádio com o nome da música que estava tocando. E foi assim a minha quarta-feira de cinzas, um verdadeiro ‘Big Empty’ ou ‘Grande Vazio’ em português.
Há um senso comum entre todos os meus amigos que tiveram coragem de partir: nenhum deles cogita a possibilidade de voltar a morar no Rio de Janeiro.



Minha profissão me faz enxergar tudo com olhar crítico. A cada dia fico mais desanimado com o que presencio no Rio de Janeiro. Não são apenas os políticos, basta ter um evento como o carnaval, para perceber que uma parte da população merece os governantes que tem. O rio não dá mais certo.
Desde 2009, quando meu primeiro amigo saiu do Rio, fui vítima de um sequestro relâmpago, depois tive o meu carro e pertences roubados enquanto estacionava num dos pontos mais movimentados da noite carioca. E por último, em janeiro do ano passado, fui assaltado e agredido a caminho do trabalho, às 04 h da manhã. Além disso, também sofri dois furtos durante a cobertura de grandes eventos. Já contei alguns desses casos aqui no blog.
Enquanto escrevia este texto, um amigo postou no Facebook que estava acontecendo mais um arrastão no Túnel Santa Bárbara, que é uma das vias mais importantes da cidade.
Como as minhas amizades mais recentes ainda estão por aqui, seguimos confraternizando em nossas casas, onde nos sentimos um pouco mais seguros e menos afetados pela desordem e a falta de educação de uma parte da população.