O ano de 2018 vai ficar na minha memória como o período em que
encerrei ciclos e me interiorizei. Olhar para si mesmo não é fácil, até porque
nem todas as descobertas são agradáveis. Mas o que está dentro nos ajuda a
entender o que está fora. Em fevereiro do ano passado, durante a despedida do meu
melhor amigo que foi morar em São Paulo, saí numa foto sentado ao lado dele e aquela imagem me incomodou muito. Eu estava enorme, com 91 quilos, o maior peso que já
tive até hoje. Mas não era só uma questão de aparência, eu sabia que aquele era
o retrato de questões saúde e emocionais mal resolvidas. Era necessário ficar fora de
cartaz, fechado para balanço até que compreendesse tudo o que estava
acontecendo. A primeira medida foi viajar totalmente sozinho pela primeira vez na vida,
mesmo estando namorando na época. Escolhi Curitiba, pois queria conhecer o
Armazém Garagem, um bar que reúne duas das minhas principais paixões: rock e
antigomobilismo. Fui sem planos para os 6 dias que em fiquei na cidade.
Acordava, me arrumava e saía do hotel sem destino. Foi assim que conheci
lugares incríveis e me apaixonei pela cidade. Tirando o “bom dia” para os
funcionários do hotel e uma breve conversa com um casal de idosos na piscina,
eu não falei com mais ninguém. Precisava de silêncio para me ouvir e me encontrar
nas esquinas da cidade. Mesmo com a programação ‘freestyle’, visitei os
principais pontos turísticos. De todos os lugares, o Parque Tanguá foi o que mais
me marcou. Fiquei horas sentado olhando a queda d’água, um verdadeiro ritual
de meditação. O primeiro dia desta viagem, 20 de fevereiro, marcou o dia em que
abandonei o vício do café. Tomava em média seis copos da bebida por dia, o que
só agrava a minha recém diagnosticada úlcera gástrica. A úlcera foi curada, mas
um grave problema de refluxo ficou, atacando o meu esôfago com a acidez do
estômago, o que prejudicou a minha voz durante boa parte deste ano. Foi a gota d’água,
não dava pra aceitar que algo poderia ser evitado comprometesse a minha
ferramenta de trabalho. Primeiro foi o
café, depois o açúcar no achocolatado e a tão amada torta alemã que vende na
lanchonete do trabalho.
Mas como disse no início, também existiam questões
emocionais. De 2016 pra cá, quando chegou ao fim o meu relacionamento mais
longo, eu tive mais 3 relacionamentos oficiais (conheceu família, amigos, colegas
de trabalho e etc...) e um que não chegou a ser um namoro, mas durou alguns
meses e foi tão relevante quanto os outros três. Em apenas dois
anos, me envolvi emocionalmente com 4 pessoas. Todos esses relacionamentos com
intervalos de no máximo 15 dias entre o fim do anterior e o começo do seguinte.
É claro que nenhum deles poderia ter dado certo. O primeiro desses 4, foi bastante conturbado. Esgotei toda a minha energia
emocional tentando provar que eu não era o homem mais desejado do universo e
muito menos o mais infiel. Quando esse namoro, que durou apenas 8 meses, chegou
ao fim, eu precisava de um tempo para me reconstruir o que foi levado pelo furacão. Foi nesse período em que
tive a primeira crise grave de refluxo, ficando totalmente sem voz durante
alguns dias. Porém, não fechei para balanço e em poucos dias a vida colocava outras pessoas especiais no meu caminho. Não sei se posso chamar de
sorte, mas despertei o interesse de mulheres incríveis. Depois do primeiro
encontro, eu sempre me questionava “por que não?”. Só que eu respondia apenas
olhando pra outra pessoa e não pra mim mesmo. Convidava pra um segundo encontro
e quando me dava conta, era um novo relacionamento. No entanto, eu ainda estava
oco por dentro. Ofereci muitos sentimentos, como amizade, respeito e
companheirismo, mas não conseguia retribuir o que recebia do coração alheio. O que
poderia ter sido a minha sorte foi o azar das últimas mulheres que se
envolveram comigo. Quando eu começava a reconsiderar a postura que tive no
último relacionamento, já estava em outro. Não me dei a chance de pensar um
pouco e depois de alguns dias/semanas, procurar a pessoa pra me desculpar e
quem sabe, após reconhecer que precisava de um pouco de compreensão, tentar
novamente. Porém, no último término, há quatro meses, ouvi uma frase que me
impactou muito: “Renato, desejo que um dia você deixe de ser piscina rasa e
vire mar”. Ela foi cirúrgica na definição, pois todo mundo que mergulhava de
cabeça estava se machucando. Precisava voltar a transbordar amor, algo que eu
fiz durante muito tempo, mas parecia ter esquecido. Foi aí que me toquei
o quanto era cruel deixar pessoas se envolverem comigo sem estar preparado (ou
com vontade) de pensar uma vida juntos novamente. Não tinha o direito de fazer outras
pessoas pagarem pelo fracasso de um relacionamento anterior. Era o ápice do
egoísmo. Setembro e outubro foram meses difíceis, pois me olhava no espelho e
não tinha orgulho de quem eu via. Fiquei à flor da pele, tudo me atingia. A
escrita continuou e mesmo não buscando conheci mulheres muito interessantes nos
últimos meses, porém, fui honesto com elas e comigo mesmo, deixando claro que o
máximo que tenho pra oferecer no momento é um jantar, um chopp ou a companhia numa
roda de samba, sem a segunda vez. Agora acredito que apenas um encontro também pode ser incrível e se tornar uma lembrança que mereça ficar intacta. Assim,
aos poucos, vou sentindo o meu coração voltar a bater.
Mas não apenas os últimos relacionamentos me fizeram querer
recomeçar, o clima de ódio que envolveu a última eleição me afetou diretamente,
principalmente quando eu via postagens de amigos nas redes socais. E não estou
falando de eleitores do candidato A, B ou C. No geral, parece que todo mundo
enlouqueceu e perdeu o respeito. Foi um período de desamor, que deixou
resquícios ainda presentes. Os candidatos conseguiram despertar o pior das
pessoas. Quando eu acessava o Facebook e via a foto de um pai fazendo arminha
com a mão do filho de 3 anos, me dava vontade de chorar porque muitas dessas
pessoas foram importantes na minha vida. Porém, não posso deixar que o
ódio ande ao meu lado. Tomei uma atitude radical: excluí definitivamente o meu perfil
do Facebook que existia há 9 anos e tinha contatos de pessoas de toda a minha
trajetória. Em seguida, fiz o mesmo com a minha conta do Twitter. E por último, na semana passada, troquei o número do meu celular. Criar novas contas me deu o
direito de filtrar as pessoas que são relevantes na minha vida atualmente. Seria
mais traumático ter que apagar cada pessoa que não cabe mais no meu dia a dia. Criei
um novo perfil no Facebook apenas para administrar as páginas e grupos dos
quais sou moderador. Também fiz um novo Twitter apenas para seguir contas que
me auxiliem no trabalho. Não era minha intenção desistir de pessoas, mas
precisava deixar pra trás a maldade, o ódio e a negatividade. Estava me fazendo
mal. Esse momento também foi propício pra que eu repensasse o meu
senso de humor, sempre baseado em ironias ácidas. Meu humor é egoísta, pois a intenção
sempre foi que apenas uma pessoa achasse graça. No caso, eu. Minha maior
diversão sempre foi enviar ou responder mensagens de forma muito seca, saindo
do óbvio e deixando o outro na dúvida se estou falando sério ou não. Enquanto
estou gargalhando, a outra pessoa fica pensando mil coisas, tentando se
explicar ou se desculpar pelo que não fez. Tá, eu sei que é um humor babaca,
mas as pessoas mais próximas entendem e, às vezes, até se divertem também.
Porém, nem sempre acontece. Até as pessoas que melhor me conhecem também ficam
chateadas. Há algumas semanas, uma das pessoas mais importantes da minha vida
me enviou duas imagens: antes e depois de estar maquiada para uma sessão de
fotos para a empresa em que trabalha. Ela estava linda, o que todo mundo já devia
ter falado, mas esperava ouvir isso de mim também. Porém, eu apenas respondi
perguntando se ela estava fazendo um novo book de 15 anos. Ela me chamou de
estúpido e ficou alguns dias sem falar comigo. Foi aí que percebi que meu humor
espírito de porco estava passando dos limites, pois me divertia deixando as
pessoas que eu mais gosto com raiva. Quando acontece com alguém que me conhece
bem, depois de alguns dias, tudo volta ao normal e sou desagradável novamente. No
entanto, quando ajo assim com alguém que acabou de me conhecer, provavelmente não
terei a chance de provar que essa é a minha forma de brincar com quem eu gosto. Não é fácil explicar para uma namorada que ‘muito linda’ é uma ironia e que ‘muito
mala’ é quase uma declaração de amor. Às vezes, consigo. Às vezes, não. Estou
tentando me policiar, pois deve ser mais divertido rir junto.
Após os difíceis meses de setembro e outubro, em novembro,
fiz a segunda viagem do ano sozinho: Foz do Iguaçu com passagens pela Argentina
e Paraguai. Foi tão bacana quanto a de Curitiba. Também foi ‘freestyle’, sem
compromisso com nada ou com ninguém. Porém no quinto e penúltimo dia, me
permiti socializar com outras turistas durante a visita ao Templo Budista.
Depois, fomos almoçar juntos e até falei meu nome verdadeiro, o que não fiz em
Curitiba, quando tentaram puxar assunto comigo num bar. Voltei renovado de Foz.
Enquanto cuidava do emocional, estava também empenhado em ter
uma saúde melhor. Além de abandonar o café, reduzi em 95% o consumo de refrigerante,
passei a me alimentar seguindo orientações médicas e voltei pra academia.
Resultado: no último dia de 2018, estava pesando 81 quilos, 10 a menos do que em
fevereiro, quando saí na foto que me
incomodou. Mas foi muito além do que a questão da aparência, pois na última semana
de 2018, a médica me liberou, após 6 anos de uso contínuo, dos remédios para
controlar o colesterol e a tireoide, que tinham taxas perigosamente
desreguladas desde 2014. Nos últimos anos, fui parar duas vezes na emergência
de um hospital, durante a madrugada, achando que estava tendo um princípio de
infarto.
Apenas uma questão de saúde ainda não consegui resolver totalmente, que
é o refluxo. Em Foz do Iguaçu, não respeitei o jejum de três horas antes de
deitar. Encerrei todos os dias comendo nachos e outras guloseimas, sempre
acompanhadas por alguns copos de Budweiser, num bar de comida mexicana. Acabei
com o meu estômago e até agora não estou 100%, o que causa crises de tosse
seca. Mais uma vez precisei tomar uma decisão radical e foi o que fiz: o
réveillon marcou também o último dia em que consumi bebida
alcoólica. Dependendo da ocasião, pretendo até abrir uma exceção para o vinho,
mas cortei definitivamente a cerveja dos meus momentos de lazer.
Uma das músicas da minha vida é ‘Walk On ‘ do U2. Encerro
este enorme texto com a minha parte preferida da canção:
“Tudo o que você produz
Tudo o que você faz
Tudo o que você constrói
Tudo o que você quebra
Tudo o que você mede
Tudo o que você sente
Tudo isso você pode deixar pra trás.”
Vamos amar e sempre buscar o melhor de nós mesmos em 2019!
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