domingo, 7 de julho de 2019

Preciso falar sobre a Rádio Globo...

Nos últimos 6 anos, compartilhei, neste blog, os mais diversos sentimentos. Está aqui tudo que é ou foi importante pra mim. E por que não falar da Rádio Globo? Não é novidade pra ninguém que a emissora sempre foi uma das paixões da minha vida. A primeira publicação desta versão do meu diário virtual, o ‘Campo Minado’, ocorreu em abril de 2013. De todos que criei até hoje (foram alguns), este é o mais longevo, talvez porque há 6 anos já tivesse atingido o grau de maturidade suficiente para não me arrepender posteriormente de algo que escrevi. Em 2013, os 30 já estavam batendo à porta, meu pai já havia morrido, já era formado em rádio e em jornalismo, já tinha casado e separado e estava realizando um dos maiores sonhos da minha vida: trabalhar na Rádio Globo. Ouso dizer que esse é o sonho de 9 entre 10 pessoas que pretendem fazer carreira no rádio. 

Meu texto não será de “viúva”, pois já existem muitas na internet. Pessoas que tentaram se segurar em suas cadeiras até o último segundo, mas após a demissão, ao invés de procurarem outro emprego, gastam energia para falar mal da empresa. Eu acho patético. Quando alguém me manda um link de um site ou blog criticando a Rádio Globo, eu pergunto: “Fulano pediu demissão ou foi demitido?” Se pediu demissão, tudo bem, até penso se devo ler ou não. Agora, se foi demitido, é só mais um amargurado. Não tenho tempo pra perder com essa energia ruim.
Há alguns dias, estava numa mesa acompanhado por amigos radialistas. Em algum momento do papo, foram citados os locutores que integrarão a nova fase musical da Rádio Globo. Dos 3 contratados, dois pediram desligamento das empresas onde trabalhavam há anos, posicionadas no ibope à frente da Rádio Globo. Alguém na mesa enfatizou: “Eles são malucos!” Porém, outro amigo questionou: “Vamos ser sinceros, quem aqui falaria não para a Rádio Globo?” Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente. É isso, todo radialista quer ter um carimbo da Rádio Globo na Carteira de Trabalho. Quem trabalhou na emissora e passou a falar mal após ser demitido, voltaria a trabalhar lá ganhando 30% do que recebia anteriormente, garanto.
Ingressei como estagiário, após 4 etapas de um processo seletivo com quase 500 participantes. Eram apenas 6 vagas, fiquei com uma delas. Nem sabia qual era a minha carga horária obrigatória, pois queria ficar lá o dia inteiro. Após 5 meses acompanhando o trabalho das equipes de jornalismo e esporte das rádios Globo e CBN, fui contratado como trainee. De cara, fui mandado para o Centro de Operações da Prefeitura, onde junto com o Genilson Araújo, então repórter aéreo do SGR, éramos as vozes mais ouvidas nas manhãs do rádio carioca, pois entravávamos no ar na Globo, CBN e Beat 98. Juntando a audiência das 3, dava cerca de meio milhão de ouvintes. Antes de ser efetivado como repórter, já havia assumido o microfone de um dos “Amarelinhos”, o carro de reportagem mais famoso do país, no horário nobre do rádio. Foram 3 anos como repórter, sempre tendo a prestação de serviço como principal marca do meu trabalho. Quando a rádio acabou com a reportagem de rua, em 2016, assumi, contra a minha vontade, a produção/coordenação de estúdio do Show do Antonio Carlos. Já falei sobre esse episódio aqui.

Em abril de 2017, a tradicional Rádio Globo, que em 72 anos de existência, foi a principal emissora do país por pelo menos 4 décadas, chegou ao fim. Todos os medalhões da rádio foram dispensados. E por mais questionem até hoje aquela decisão, a conta é simples: a rádio gastava mais do que ganhava, mesmo sendo líder de audiência em alguns horários. Algo precisava ser feito, urgentemente. 
Naquela época, alguns jovens eram considerados as apostas para o futuro da emissora. Acredito que eu estava entre eles, acompanhado por Ana Paula Portuguesa, Guilherme Grilo e Bruno Mattos. Porém, o projeto ‘Nova Rádio Globo’ colocou nossas pretensões na gaveta. No dia da apresentação do projeto inovador realizada pelo novo diretor da emissora, foi dita a famosa frase (no meio do rádio): “Vocês não entraram aqui sabendo tudo. Agora, vocês vão ensinar a quem nunca fez rádio” referindo-se aos artistas da TV que assumiriam os microfones da emissora. Não demorou muito até perceberem que mais do que ensinar, os “vocês radialistas”, como éramos chamados no início, precisavam estar presentes no microfone, sim! E mesmo não tendo vinhetas com os nossos nomes, aproveitamos muito bem todos os espaços que nos sobraram. Alguns até se destacaram mais na Nova Rádio Globo do que na antiga.
No início, como todos os outros antigos funcionários, achei tudo uma loucura. Mas quando o projeto completou um ano, já estávamos entregando, em alguns horários, produtos relevantes e realmente inovadores aos ouvintes. Outro fato positivo foi que o clima na redação/central de produção ficou muito mais leve e saudável. Como não havia mais a competição para ser o novo Haroldo de Andrade (ninguém seria capaz), todo mundo passou a trabalhar em equipe, algo que não acontecia na fase anterior, quando as equipes dos programas eram rivais, alguns comunicadores se odiavam, um torcendo pelo fracasso do outro. Na Nova Rádio Globo, todo mundo trabalhou junto para que desse certo. Desafetos que fiz na antiga Rádio Globo, foram bons e respeitosos colegas de trabalho no novo projeto. O nome ‘Rádio Globo’ depois do ‘Nova’ pesou muito, por isso, os números da audiência não traduziram a qualidade do que estava indo ao ar. Foi um risco que a empresa resolveu correr.
Ao mesmo tempo em que continuou utilizando o nome Rádio Globo, a empresa decidiu esquecer o passado a todo custo. Não foram comemorados os 73 e os 74 anos da emissora, em 2 de dezembro de 2017 e 2018, respectivamente. O aniversário passou a ser comemorado em 12 de junho, data que marcou a estreia do projeto ‘Nova Rádio Globo’, em 2017. Todo o conteúdo do site, que durante anos foi o mais acessado entre todas as emissoras de rádio do país, foi apagado após uma decisão tomada numa conversa de 30 segundos, que tive o desgosto de presenciar, causando uma perda irreparável na memória recente do Brasil. Quantas entrevistas, em programas como o Manhã da Globo, pautaram o noticiário do país no resto do dia. E as reportagens exclusivas? Meu Deus! Todo esse material foi pro lixo, tirado da eternidade, porque não dava pra atualizar os links antigos com o layout da nova rádio. Imagine se os portais de notícias apagassem todo o seu histórico quando o design do site fosse atualizado. No ano passado, quando decidiram homenagear o passado da emissora produzindo uma reportagem sobre os 74 anos de sua fundação, o funcionário que foi designado para a função, por trabalhar na capital paulista da emissora, não se deu ao trabalho de fazer qualquer pesquisa, produzindo uma matéria citando Fausto Silva, Gil Gomes, Osmar Santos e outros grandes nomes que passaram pela Rádio Globo de São Paulo. O único problema dessa história é que a Rádio Globo, a primeira empresa fundada pelo Dr. Roberto Marinho, que tem 74 anos de existência, é a do Rio de Janeiro. E na reportagem que celebrou essa data não foram citados Haroldo de Andrade, Waldir Amaral, José Carlos Araújo, Antonio Carlos e tantos outros que fizeram da emissora carioca a maior do país. A minha maior (talvez única) tristeza com o projeto Nova Rádio Globo foi o fato de ter transformado o glorioso passado num inimigo, ao invés de se aliar a ele. O meu respeito pela história da Rádio Globo sempre foi tão grande que ao usar os microfones mais antigos (cromados da marca Shure), eu pensava: “Caramba, esse já deve ter sido usado por fulano ou sicrano”. Quando a emissora ainda estava no famoso endereço Rua do Russel, 434 – Glória, eu passava pelo busto do saudoso Haroldo de Andrade todos os dias, na estação de metrô do bairro, e o cumprimentava acenando com a cabeça, como estivesse pedindo a bênção do maior comunicador da história para falar no poderoso microfone da Rádio Globo.
No entanto, nos dois anos do projeto, também foram muitas alegrias, tão importantes quanto as que tive na fase anterior. A cobertura que fizemos das Eleições do ano passado, me marcou como as manifestações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Rio 2016. A equipe da Nova Rádio Globo era pequena, mas muito competente. Ninguém estava lá porque era aluno de A ou da família de B. Não tinha espaço pra quem não gostava ou não sabia trabalhar.
Mais uma vez, mesmo sendo mais econômica, a rádio não atingiu o que era esperado financeiramente. E o projeto acabou assim que completou dois anos. Com ele, chegou ao fim também o departamento de jornalismo da emissora, um dos mais importantes da história do rádio brasileiro, do qual eu fazia parte.
Após 6 anos e 5 meses, fui demitido com mais uns 30 funcionários (apresentadores, jornalistas, profissionais de marketing, sonoplastas e técnicos). Nesse período na empresa, descobri o profissional que eu preciso ser e também aprendi qual eu não aceitaria ser nunca. Como jornalista, absorvendo ao máximo do convívio com as minhas maiores referências na profissão, fui incansável e busquei ser inquestionável. Me orgulho por nunca ter precisado dar um direito de resposta sequer por alguma reportagem produzida por mim. Namorei a colega de trabalho que sentava ao meu lado na redação e depois, uma ouvinte, que um dia me enviou uma mensagem numa rede social, em tom de esporro, por não concordar com algo que noticiei. Fiz grandes e eternas amizades. Caí da cadeira de tanto rir durante um plantão na madrugada. Também já voltei pra casa com a coluna travada de tanto estresse. Realizei sonhos que eram inimagináveis. E o mais importante da minha carreira na Rádio Globo: fui a voz de muita de gente que não era ouvida!

Ainda neste mês de julho, estreia uma terceira versão da Rádio Globo, totalmente diferente das anteriores. Se será melhor ou pior, os ouvintes que vão dizer, pois eles sempre serão os verdadeiros gestores da emissora. Enquanto existir Rádio Globo, seja lá qual for, estarei na torcida, pois poucos nomes são tão importantes na minha vida quanto esse.

Obrigado, Rádio Globo!

P.S.: muitos ouvintes me perguntaram por que fiquei afastado do microfone da emissora na última semana do extinto projeto. Como muitos sabem, eu estava apresentando o Café das 6 com o Fernando Ceylão, no dia 21 de junho, quando ele fez uma brincadeira citando no ar outras emissoras poderiam contratar a equipe do programa. Alguém não gostou da piada feita pelo Ceylão (que antes de qualquer outra função que exerça, é humorista) e além de afastá-lo, me colocou no cantinho da disciplina: ficar a semana derradeira do programa dentro do estúdio, mas sem poder falar no ar. Como profissional que sou, acatei a decisão, só me pronunciando no último dia, para me despedir de quem realmente importa: os ouvintes. Eu não sei qual legado o autor dessa decisão vai deixar na emissora, quer dizer, na verdade, eu imagino. Acho que você também. Já no meu caso, fui o primeiro estagiário na história da Rádio CBN (que já existia há 22 anos na época), que foi creditado como colaborador no fim de uma reportagem, por causa da contribuição na matéria sobre a descoberta dos explosivos no terreno de Deodoro, onde querem construir o novo autódromo do Rio. Fui o funcionário que no menor espaço de tempo foi de estagiário a apresentador de um programa em toda história da Rádio Globo. Após exatos 2 anos e 1 mês da minha contratação como estagiário, assumi por alguns meses a apresentação do programa ‘Sucessos da Globo’, nas madrugadas de domingo para todo o país. Desde 2005, a Rádio Globo do Rio só foi finalista em prêmios de jornalismo duas vezes. Idealizei, produzi e apresentei as duas séries de reportagem premiadas. Em ambas as ocasiões, a Globo foi a emissora de rádio mais bem colocada. Quando emplacar notícias na home da Globo.com era tão importante quanto o conteúdo que ia ao ar, fui o único repórter da emissora (talvez do SGR inteiro) que teve duas reportagens simultâneas (assuntos distintos) em destaque no portal de notícias que concentra todas as empresas do Grupo Globo. Já na fase Nova Rádio, produzi , coordenei o estúdio e apresentei interinamente o Café das 6, programa que, em pesquisa recente realizada com ouvintes, foi o mais bem avaliado da emissora, além de ter alcançando a liderança na média do ibope no horário em relação as duas emissoras de notícias concorrentes. Se a intenção era me punir por algo que eu nem fiz, bastava ter pesquisado um pouco sobre o meu histórico para saber que a piada feita pelo meu companheiro de bancada não mancha a minha trajetória na Rádio Globo.

Momento da minha despedida na Rádio Globo:

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Vc foi apenas um mero final da Radio Globo, agora a Radio Globo vai tentar ser Beat 98 e Mundial,

    ResponderExcluir
  3. quando se lembra da Radio Globo se lembra dos Monstros Sagrados do Radio como Hatoldo de Andrade, Luiz de França, Jorge Curi...Mario Luiz

    ResponderExcluir
  4. Desculpe Beto, mas qual parte do texto ele ofende alguém? Texto sincero e lúcido. Parabéns CantHarino, pela sinceridade e pela forma como nos informou sobre seu amor pela Rádio que ouço a 40 anos. Nesses últimos 15 dias só tenho ouvido no final do dia a parte esportiva, pq com os apps de música ouço as que gosto. Acho que a RG deu um tiro no pé. Poderia ter mesclado a Nova "nova" rádio globo .
    Mas já temos prigrama novo que estreia hoje ....
    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Renato, creio que a amargura citada é pelo senso de injustiça contra a história da própria Rádio Globo e à falta de competência e profissionalismo da direção da empresa, que sofreu desde Bruno Tys e seus asseclas, imbuídos de arrogância e descompromisso com a marca, ainda mais agora com um sujeito que chamava operadores de DJ's. Felizmente um dos destruidores da empresa está de saída mas possivelmente encontrará amparo em outra empresa do grupo, a despeito de sua estupidez gerencial. Passeou na Rússia às custas da empresa enquanto o jornalista responsável pelo material enviado de lá teve que bancar metade da viagem. Absurdos que se somaram à destruição de material histórico como vc citou.
    Lamentável mesmo...

    ResponderExcluir
  6. Ele foi muito feliz pelo comentário,não ofendendo ninguém e dando a sua opinião sobre a nova radio globo.

    ResponderExcluir
  7. Na verdade, na antiga Rádio Globo alguns comunicadores se achavam estrelas, Comentário em particular da Coordenadora confidenciado a mim por Ana Mércedes. isso no final da década de 90.

    ResponderExcluir
  8. Boa sorte,Renato.Deus te abençoe. Sucesso e muita paz.

    ResponderExcluir
  9. Parabéns Renato, parabens pela carreira. Fico acompanhando esse profissional que é exemplo pra quem quer ser jornalista. Rodrigo Motta!

    ResponderExcluir
  10. Desejo sucesso e realizações para vc, onde quer que esteja! Você é 10!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cantha...quanto mais te ouço e leio sobre te admiro mais e mais e torço pra seu sucesso. Adoro histórias e podem falar o q quererem mas Globo e Globo, mas novo as direções vão ter q respeito a história escrita em toda sua trajetória. Graça a vcs passei a ouvir rádio.beijos

      Excluir
  11. parabens!!!Nada é por acaso.Tbm escutava a Radio desde sempre com a minha falecida mae.Atualmente tive que migra para outra e descobri a pouco tempo mais um comunicador,em uma segunda.Os doidos do Esporte á noite,sinto falta.Nao sei acessar o You Tube.kkkkk.Sucesso querido.

    ResponderExcluir
  12. De notícias pra podermos te prestigiar..

    ResponderExcluir
  13. Que saudade vou sentir do café das seis... Sucesso Cantha! Vcs são maravilhosos!

    ResponderExcluir